Em “Presença” (2025), o filme instiga o telespectador a explorar a tensão psicológica e sobrenatural a partir do ponto de vista da entidade. Com a direção de Steven Soderbergh (‘Onze homens e um segredo’, 2001), a narrativa segue uma abordagem original, com artifícios de plot twist, embora interessante, revela-se mais como uma limitação do que uma proposta ousada. O enredo inicia com a chegada de uma família a uma nova residência, o casal Rebekah (Lucy Liu, ‘As Panteras’, 2000) e Chris (Chris Sullivan, ‘This Is Us’) com os seus filhos, Chloe (Callina Liang) e Tyler (Eddy Maday). A mudança de casa é o que parece ser o cenário ideal para recomeçar e desenvolver conflitos internos dos personagens após a morte da melhor amiga da Chloe.
Tyler ocupa a posição do filho talentoso, o centro das atenções para a sua mãe, enquanto a Chloe é dependente apenas do seu pai, por ser a filha mais frágil a lidar com problemas mentais, que se tornam o núcleo do mistério. A dinâmica familiar é marcada por discussões constantes entre os pais, refletindo um casamento desgastado e de incertezas. Embora esses elementos sejam recorrentes em filmes de terror psicológico, a obra não consegue desenvolvê-los de forma aprofundada, deixando-os muitas vezes rasos e pouco explorados.
A entidade está presente antes mesmo da chegada dos novos moradores, vagando por uma casa com decoração bem planejada e encantadora. E acaba escolhendo a Chloe como sua pessoa “favorita” para ser observada. O fantasma não pode ser visto pelo telespectador, pela família e nem mesmo por ele mesmo quando passa em frente aos espelhos, que são utilizados de forma recorrente em sua construção. Esses artifícios são modelos antigos e desgastados que fogem do esperado em uma casa moderna. São citados como os objetos que armazenam histórias ao longo dos anos, uma técnica utilizada para refletir o confronto entre o passado e o presente, e, ao mesmo tempo, para distorcer a realidade.
A janela, por sua vez, é também um símbolo recorrente no filme, uma representação da separação entre o que é visto do lado de fora e o que está oculto entre quatro paredes. Infelizmente, o longa não consegue tirar o máximo proveito dessa metáfora, deixando a sensação de que o filme se arrasta sem entregar as respostas ou a tensão prometida. Resultando em uma entidade que não faz contato direto com a família em seus primeiros momentos. As atitudes tomadas por ela podem causar um estranhamento ao público, por proteger a Chloe em momentos desafiadores.
Outro ponto interessante que poderia ter sido mais bem explorado foi a relação com a amiga que morreu. Chloe lida com o processo de luto de forma isolada até a chegada do Rhyan (West Mulholland), o garoto popular que se aproxima do seu irmão.Ele demonstra, desde a primeira interação, que está interessado na garota, tornando a aproximação entre eles um clichê desnecessário. Mais um personagem é inserido na trama, uma jovem sensitiva que visita a residência da família disfuncional e confirma a existência de uma presença no local, que está sofrendo.
Os símbolos que surgem durante o enredo, como a quebra de móveis e o copo com drogas, sugerem uma tentativa de criar uma atmosfera perturbadora, mas acabam se tornando metáforas vazias. Considerando tudo isso, “Presença” é um filme com uma premissa interessante, mas que falha em sua execução. Pode prender a atenção do público por falta de resposta, e também o plot twist que é realmente impactante, tendo assim um potencial para agradar uma parcela dos espectadores. As lacunas emocionais e narrativas não são bem preenchidas, e o que se propõe a ser um suspense psicológico acaba se tornando um drama confuso e arrastado.
Por Rebeca Furtunato