“Nas Terras Perdidas” estreia nesta quinta-feira (17) nos cinemas brasileiros prometendo uma fantasia sombria repleta de criaturas místicas e ecos medievais em um cenário pós-apocalíptico. Dirigido por Paul W.S. Anderson, conhecido pela franquia Resident Evil, o filme se perde em uma narrativa confusa, marcada por uma estética excessivamente artificial e personagens pouco desenvolvidos, o que torna a experiência arrastada e desinteressante.
Baseado no conto de mesmo nome do George R.R. Martin, autor também de “As Crônicas de Gelo e Fogo”, tem como protagonista do longa a bruxa Gray Alys, vivida por Milla Jovovich (Resident Evil: O Hóspede Maldito), esposa do diretor. Ao seu lado, o misterioso caçador Boyce, interpretado por David Bautista (Guardiões da Galáxia), aceita missões que favoreçam seus próprios ganhos, independentemente da moral envolvida. Juntos, enfrentam uma jornada desafiadora a pedido da rainha Melange (Amara Okereke) com a missão de encontrar um poder capaz de mudar a forma das pessoas e transformá-las em lobisomens. Uma trama que parece mais convincente nos livros, mas nas telas falha em quase todos os aspectos.
Desde a primeira cena, em que o Boyce quebra a quarta parede anunciando que esta seria uma obra “não recomendada para pessoas com estômago fraco”, a produção escorrega. O que se espera como uma adaptação brutal e intensa se resume a um amontoado de frases de efeitos batidas, com diálogos robotizados e cenas que falham em criar qualquer tipo de impacto relevante. Nada é aterrorizante como se propõe e nem causa uma tensão no público. A ambientação tenta misturar elementos de Mad Max e Duna, e até remete ao universo de videogames, como Resident Evil principalmente pela estética artificial e pelas sequências desconexas. Porém, ao contrário das referências mencionadas, “Nas Terras Perdidas” não desenvolve suas temáticas. É visto a presença do fanatismo religioso, a heresia, um povo sofredor e transformações enigmáticas, é tudo jogado ao público de uma forma nada coesa.
Os personagens secundários não ajudam. Conta com atuações pouco expressivas, previsíveis, que estão ali apenas para preencher espaço. A atuação de Milla Jovovich, que já mostrou força em outros papéis, aqui se limita a expressões neutras e falas batidas. Já David tenta soar com certa firmeza, mas recebe um roteiro fraco. A fotografia, por sua vez, reforça o clima de artificialidade. Os cenários parecem reciclados, falsos demais até ao ponto de causar estranhamento, ou tudo é excessivamente alaranjado, ou azulado.
Ainda que a proposta de adaptar uma obra de George R.R. Martin pudesse atrair fãs e amantes de adaptações pós-apocalípticas, o resultado é uma bagunça de conceitos interessantes, jogados sem sentido e mal executados. “Nas Terras Perdidas” pode ter uma melhor recepção nas plataformas de streaming, onde o público tende a ser mais tolerante com experiências visuais ousadas, mas é pouco provável que leve um grande público aos cinemas. Por fim, o longa, que teve um grande investimento financeiro, desperdiça um material com potencial e desliza ao tentar equilibrar elementos memoráveis com visual de videogame e narrativa fragmentada. Para quem busca uma fantasia envolvente, batalhas brutais e jornadas visualmente impactantes, “Nas Terras Perdidas” não corresponde à proposta.
Nota: ✨,5
Por Rebeca Furtunato