“Perrengue Fashion” — Flávia Lacerda (2025)

Ingrid Guimarães volta às telonas em grande estilo com “Perrengue Faishon”, uma comédia que combina o humor afiado que o público já espera da atriz com uma camada de emoção e o afeto por trás das risadas. Dirigido por Flavia Lacerda (‘O Auto da Compadecida 2’) e com roteiro assinado por Ingrid Guimarães, Marcelo Saback, Célio Porto e Edu Araújo, o longa estreia nesta quinta-feira (9) nos cinemas de todo o Brasil, prometendo divertir e emocionar na mesma medida. 

A trama acompanha Paula Pratta, uma mulher de 52 anos que decide mergulhar de cabeça no mundo das redes sociais para realizar o sonho de se tornar influenciadora de moda. O cenário é competitivo, repleto de filtros, hashtags e egos inflados,  Paula precisa lutar para se destacar. Entre tutoriais, publis e tentativas desastradas de viralizar, ela busca uma forma de ser vista e admirada, mesmo quando o mundo parece já ter escolhido suas novas estrelas. Ao seu lado, o inseparável Taylor (Rafa Chalub) é muito mais do que um amigo: é empresário, fotógrafo, conselheiro e cúmplice nas aventuras e desventuras de Paula. Juntos, formam uma dupla dinâmica que carrega boa parte do carisma e ritmo do filme. Chalub e Guimarães têm uma química natural em cena e conseguem transformar qualquer situação absurda em algo extraordinário e divertido.

O humor é, sem dúvida, um dos pontos altos do filme. As piadas nascem do universo digital de forma natural, sem forçar a barra ou cair em clichês. Há menções a influenciadores, trends e campanhas de moda que o público reconhece de imediato, mas tudo é feito com sutileza e inteligência. Flavia Lacerda conduz essas situações com precisão, transformando o cotidiano das redes em algo divertido e, ao mesmo tempo, crítico. O riso nem sempre é solto, por trás dele, há uma observação delicada sobre a necessidade de ser visto, curtido e validado em um mundo que vive conectado.

Mas “Perrengue Faishon” vai além do humor. O grande conflito emocional surge quando Paula se vê dividida entre sua carreira de influenciadora e a relação com o filho, Cadu (Filipe Bragança). O jovem, que abandonou uma vida de prestígio no exterior para se dedicar ao ativismo ambiental em uma ecovila na Amazônia, representa tudo o que Paula ainda não entende: propósito, calma e desconexão. Esse contraste entre o brilho artificial da moda e a simplicidade da vida na floresta dá ao filme uma dimensão sensível e inesperada.

É também por meio dessa relação que o longa encontra seus momentos mais comoventes. Paula precisa aprender a se olhar além das curtidas, a reconectar-se com o que realmente importa. Em meio às luzes e selfies, o roteiro fala sobre maternidade, amadurecimento e a necessidade de ser validado, não apenas pelos outros, mas por si mesmo. Visualmente, o filme é um espetáculo. A direção de arte e os figurinos são um deleite à parte: o universo da moda é retratado com exagero proposital, flertando com o absurdo e o glamouroso. As cenas ambientadas na Amazônia, em contraste, são filmadas com delicadeza e luz natural, reforçando a oposição entre os dois mundos que Paula precisa conciliar.

À medida que a trama avança, Paula se permite viver algo novo, o amor e o reencontro. Ao conhecer Lorenzo (Michel Noher), líder da ecovila e acompanhar o filho Cadu em sua rotina na Amazônia, ela descobre um mundo completamente oposto ao que sempre desejou. A floresta, com seu silêncio e beleza natural, contrasta com os flashes e notificações que guiavam sua vida. Ali, entre o verde e o tempo desacelerado, Paula aprende a enxergar o filho de outro modo, não como alguém que desistiu dos sonhos, mas como quem encontrou outro tipo de propósito. Permitir-se entrar nesse universo é também um gesto de amor, uma forma de se reconectar não apenas com ele, mas com aquilo que o dinheiro, as marcas e as redes sociais jamais conseguiram oferecer: presença, calma e verdade. Nem tudo precisa caber em um story; algumas experiências só fazem sentido quando vividas fora da tela.

Ingrid Guimarães, mais uma vez, prova por que é uma das maiores atrizes de comêdia do país. Sua performance é engraçada, mas também vulnerável. Ela não tem medo de rir de si mesma, e é justamente essa entrega que faz o público se identificar e se apaixonar com a Paula. Há algo de universal em sua personagem, a vontade de recomeçar, de provar que ainda é capaz, mesmo quando o tempo e a sociedade tentam dizer o contrário.

“Perrengue Faishon” é uma comédia sobre sonhos, redes e reconciliações. Fala de uma geração que cresceu sem internet e hoje tenta se adaptar a ela, sem perder a essência. Fala também dos filhos que escolheram caminhos diferentes, e dos laços que persistem mesmo quando há ruídos na conexão. No fim das contas, o filme é sobre o que nunca sai de moda: a coragem de se reinventar e o amor entre mãe e filho. Uma escolha certeira para assistir em família.

 Nota: ✨✨✨✨

Por Rebeca Furtunato

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