“A Hora do Mal” — Zach Cregger (2025)

Não há como ignorar o ano estrondoso da Warner Bros Pictures, que é 2025. Depois do sucesso de ‘Pecadores’ e da comoção causada por ‘F1: O Filme’, o estúdio entrega agora “A Hora do Mal”, o novo projeto de Zach Cregger (‘Noites Brutais’), e talvez, o melhor filme de terror do ano. A crítica internacional já compartilha esse sentimento, o filme debutou com 100% de aprovação no Rotten Tomatoes, reforçando seu impacto no gênero.

A trama parte de um acontecimento que quebra o cotidiano da cidade e mergulha no
inexplicável. 17 das 18 crianças da turma da Srta. Grandy (Julia Garner, ‘Quarteto Fantástico’, 2025) somem
misteriosamente durante à escuridão da madrugada. Apenas Alex (Cary Christopher) comparece à aula no dia seguinte, sem conseguir explicar o desaparecimento dos colegas. A partir daí, temos a virada para uma história contada por diferentes vozes, e com uma narração inicial, feita por uma criança, que já antecipa o clima sombrio de uma cidade que tenta encobrir o trauma coletivo, por vergonha e por não ter conseguido solucionar o caso.

É nesse ponto que “A Hora do Mal” revela a potência. Uma narrativa fragmentada, composta por histórias paralelas que, aos poucos, se unem de forma brutal. O roteiro se estrutura como um quebra-cabeça, e o diretor acerta ao não apressar a montagem desse jogo. A demora inicial da narrativa pode incomodar os mais ansiosos, mas se mostra essencial para a construção do mistério e da tensão crescente. Quando os eventos começam a se conectar, a experiência se torna verdadeiramente hipnótica e inquietante.

Cregger se diverte com referências densas. É impossível não notar a inspiração em ‘Magnolia’ (1999), de Paul Thomas Anderson, sobretudo na tensão que se acumula entre os personagens, com diferentes pontos de vista entrelaçados. Aqui, o diretor leva essa inspiração ao cinema de gênero com uma criatividade notável. O filme navega entre o terror psicológico e o mistério sobrenatural, oferecendo sustos inesperados, momentos de puro silêncio e até cenas que podem arrancar risadas do público.

O elenco bem acertado carrega grande importância. Julia Garner entrega uma atuação intensa como a professora que se encontra cercada pela fúria dos pais e pela própria culpa. Josh Brolin (‘Deadpool 2’, 2018) também brilha como o pai de uma das crianças desaparecidas, o jovem Mathew, trazendo uma carga emocional devastadora. Mas é Cary Christopher quem surpreende como Alex, um personagem silencioso, perturbador, e completamente imprevisível.

O enigma em torno das crianças é conduzido com inteligência. A imagem das 17 saindo de suas camas às 2h17 da manhã, com os braços para trás, caminhando pela escuridão, tem uma força simbólica que arrepia. Não há explicações fáceis, e o filme não tem pressa em oferecê-las. Há uma excentricidade que aparece de forma pontual, como na figura maximalista da tia de Alex, Gladys, um ruiva misteriosa, que adiciona camadas de desconforto ao quebra-cabeça.

Outro ponto alto foi a campanha de divulgação instigante, foram divulgados vídeos enigmáticos em sites e redes sociais com crianças correndo, interações performáticas nas ruas de Nova York e um trailer que, felizmente, não revela toda a experiência. A sensação de surpresa é mantida do começo ao fim de forma excepcional.

“A Hora do Mal” é uma das experiências mais envolventes do terror recente. É potente, criativo e hipnotizante. Se a narrativa demora a engrenar, ela compensa com folga ao decorrer do longa, entregando cenas brutais e uma sensação crescente de que há algo muito errado, e impossível de compreender. Vale cada elogio. E, apesar de ter demorado um pouco com os sustos diretos, o desconforto deixado pelo filme é real. Uma daquelas obras que você fica vidrado do início até o final.

Nota: ✨✨✨✨½

Por Rebeca Furtunato

Deixe um comentário