O mais recente filme preduzido pelo estimado diretor e roteirista Norte americano, Wes Anderson, teve sua estreia mundial, mais uma vez, na competitiva oficial do Festival de Cannes. Com “O Esquema Fenício“, Wes entrega aquele que talvez seja seu filme mais lúcido desde “A Crônica Francesa” (2021) e “Asteroid City” (2023). O diretor mantém sua marca registrada, mas demonstra aqui um controle estético ainda mais refinado, como se tivesse atingido um novo patamar de domínio visual — um verdadeiro tratado sobre composição, simetria e paleta cromática.
A história começa com promissora originalidade, envolvendo uma trama rocambolesca de contrabando, a estratégia de trambcicagem de um magnata que frequentemente é acometido por tentativas de assassinato. Até a metade do filme, Anderson parece conduzir o espectador por uma narrativa instigante, cheia de pequenas reviravoltas e diálogos espirituosamente cômicos.
Contudo, como acontece frequentemente na obra do diretor, a engrenagem do roteiro não mantém o mesmo ritmo até o final. A partir do segundo ato, a trama se arrasta e cede ao tédio. O filme perde força e intensidade, lembrando-nos que, na filmografia de Wes Anderson, o roteiro nunca foi o verdadeiro protagonista. Sua habilidade narrativa, embora suficiente para criar universos fascinantes, não sustenta de fato um desenvolvimento dramático robusto — e “O Esquema Fenício” confirma essa tendência.
As atuações seguem o estilo “de praxe” que se consolidou na filmografia de Anderson: performances contidas, de entonação quase neutra, comedidas até nos momentos de maior dramaticidade, mas sempre carregadas de uma ironia discreta. Benicio del Toro, no papel de Zsa-zsa Korda, entrega uma interpretação soturna e enigmática, com sua presença magnética dominando várias das cenas mais icônicas. O elenco conta mais uma vez com Scarlett Johansson, Michael Cera, Tom Hanks, Benedict Cumberbatch, Bill Murray e claro, Mia Threapleton, a melhor interpretação da produção.
O grande mérito do filme está, mais uma vez, no apuro visual. Os enquadramentos impecavelmente simétricos, cada cena coreografada com a precisão de um relojoeiro, são um deleite para os olhos. As cores, escolhidas com o meticuloso cuidado que caracteriza Anderson, transitam entre tons pastéis e saturações vibrantes, numa paleta que reafirma seus favoritos: os beges melancólicos, os verdes musgosos e os laranjas queimados.
O Esquema Fenício pode não ser memorável pelo enredo, mas é mais um exemplar visualmente deslumbrante da obra de Wes Anderson. Um filme onde o estilo, mais do que a substância, segue sendo a estrela absoluta. Segue no padrão quase compulsivo, mas não traz nada fora da bolha do diretor. Muitos imploram, Wes, por favor, volte para as animações.
Por Ester Graziele
Nota: ✨✨✨,5