“A Lenda de Ochi” — Isaiah Saxon (2025)


Chega hoje (29) aos cinemas, “A Lenda de Ochi”, com a estreia do Isaiah Saxon na direção e roteirização de longas-metragens. A produção da A24 aposta em uma aventura voltada ao público infantil, com elementos visuais marcantes, um universo próprio e bastante nostálgico. No entanto, apesar do potencial narrativo, o filme se desenvolve de maneira lenta e não entrega a magia esperada de uma grande fantasia.
O filme acompanha Yuri (Helena Zengel), uma menina solitária e incompreendida que vive à sombra do abandono materno. A garota cresce ao lado de seu pai Maxim (Willem Dafoe), um homem rigoroso que lidera um grupo de garotos com o intuito de caçar os Ochi, criaturas tidas como monstruosas e ameaçadoras pelos humanos. E quem faz parte desse grupo de jovens é Petro (Finn Wolfhard), que respeita e segue todas as regras impostas pelo seu tutor, Maxim, diferente da sua filha.

A mitologia criada por Saxon é interessante, especialmente no que diz respeito à origem dos Ochi e sua conexão com os humanos. Ao longo dos anos, no entanto,o povo de Carpathia começa a enxergar esses seres de outra forma, temem por sua segurança e caça e matam os Ochi. Yuri acaba encontrando em uma das armadilhas, feitas pelo seu pai, um bebê Ochi. E se encanta de imediato. A pequena criatura foi abandonada pelo seu grupo após sofrer um ataque dos meninos de Maxim. O filme demora a engatar, o ritmo é arrastado, e algumas cenas que deveriam ser emocionantes acabam soando constrangedoras, como os momentos em que Yuri tenta se comunicar com o Ochi, gerando uma sensação de estranheza que beira o desconforto.

O cenário é um dos pontos positivos da obra. O verde intenso das florestas, a presença constante de neblina, os tons frios e a grande presença das paisagens rurais, contribuem para uma atmosfera de nostalgia, remetendo às fantasias clássicas como “As crônicas de Spiderwick”, “Viagem ao Centro da Terra” e “ E.T. O Extraterrestre”. Fiel ao estilo da A24, o filme aposta em composições visuais simbólicas e atmosferas incomuns. No entanto, essa estética, embora sofisticada, tende a se distanciar do público infantil e a dialogar melhor com espectadores juvenis e adultos. São eles que provavelmente irão se conectar com o enredo, as paisagens melancólicas e as referências visuais que evocam lembranças da infância — especialmente de uma época em que esse tipo de fantasia dominava as grades de filmes na televisão.

Na jornada central do filme, Yuri parte em uma aventura ao lado do pequeno Ochi, determinada a enfrentar todos os desafios para levá-lo de volta à terra de sua espécie. Ao longo do caminho, a jovem reencontra sua mãe, uma mulher enigmática, que, assim como a filha, possui uma conexão rara com os Ochi, através da música, é possível conectar e compreendê-los, além das aparências. Esse reencontro traz revelações importantes sobre a origem do vínculo ancestral com os humanos. No entanto, a missão de Yuri se complica com a ameaça representada por seu pai, dominado pela raiva e pela incompreensão, incapaz de aceitar que a filha abandone o lar para se unir às criaturas que ele dedica a vida a caçar. Movido pelo medo do desconhecido e com apoio dos seus seguidores, ele promete eliminar todos os Ochi antes que qualquer tentativa de reconciliação entre humanos e essas criaturas possa acontecer. A jornada de Yuri, então, deixa de ser apenas uma travessia por diferentes territórios i e se transforma em um embate profundo entre vínculos familiares.

Apesar da atuação competente do elenco e da direção de arte cuidadosa, “A Lenda de Ochi” entrega mais promessas do que realizações. É um filme visualmente caprichado, mas que falha em criar uma conexão emocional forte com o espectador. A compreensão da proposta do longa pode ser bastante subjetiva, enquanto alguns espectadores podem se encantar com seu apelo visual e tom reflexivo, outros podem sentir falta de dinamismo e conexão emocional mais imediata. “A Lenda de Ochi” é o tipo de filme que poderia facilmente compor a programação de uma tarde de domingo, com sua estética suave e atmosfera encantada. No entanto, falta-lhe força para permanecer na memória, é uma obra que desperta curiosidade, mas dificilmente deixa marcas duradouras.

Nota: ✨✨½

Por Rebeca Furtunato

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