“Confinado” – David Yarovesky (2025)

Estreando nesta quarta-feira (29), “Confinado” é um daqueles filmes que não apenas contam uma história, eles te obrigam a vivê-la. Dirigido por David Yarovesky, a obra segue como um dos remakes do filme argentino ‘4×4’ (2019), que também desenvolveu uma versão brasileira, em 2019, ‘A Jaula’, estrelando o Chay Suede. Seguindo a mesma premissa, a obra se desenrola quase inteiramente dentro de um carro, mas é justamente nesse espaço limitado que se revela uma experiência sufocante e, de certo modo, hipnotizante.

Bill Skarsgård (‘It: A coisa’) entrega uma performance intensa como Eddie Barrish, um entregador que tenta levar a vida no seu próprio ritmo, mesmo que isso signifique negligenciar a filha Sarah (Ashley Cartwright) e ignorar os limites da ética. Eddie não é um herói, está longe de assumir esse papel. Ele opta em manter distância das suas próprias obrigações, ao não buscar a filha na escola, responder com frieza à ex-companheira e recorrer ao furto como se fosse parte de sua rotina. Seu deslize maior, no entanto, é escolher o carro errado para tentar roubar, o que parecia mais uma oportunidade de golpe fácil torna-se sua sentença imediata.

É neste momento que surge William Larsen, interpretado com maestria por Anthony Hopkins (O Silêncio dos Inocentes). Um personagem enigmático, manipulador, que transforma o próprio veículo em uma verdadeira câmara de tortura psicológica e física. Durante cerca de 80% do filme, acompanhamos Eddie encarcerado, sem chance de fuga, submetido a provas exaustivas, como a sede, fome, calor e frio extremos. Essas ações que testam sua sanidade e também a de quem assiste. A trilha sonora é repetitiva de forma proposital, e até mesmo o choque elétrico é utilizado como forma de punição, caso o Eddie não responda à altura do William. A câmera de tortura não dá respiro, junto com Eddie, o público é mantido ali dentro, assumindo o papel de cúmplices, dependendo da perspectiva.

O roteiro flerta com uma crítica ao descaso do sistema penitenciário americano. Tanto Eddie quanto William parecem desconfiar das instituições formais de punição e justiça, optando por um confronto direto e brutal. E se o filme incomoda, é porque acerta nas feridas certas. É desconfortável, porque precisa ser. As motivações de William também são colocadas em jogo, após mencionar a trágica perda de sua filha durante uma reação a uma tentativa de assalto, somadas ao roubo de diversos veículos de sua propriedade. Acontecimentos como esses são, para ele, justificativas suficientes para assumir o local de carrasco, ainda que nem precise tocar diretamente em sua vítima. Uma decisão que revela seu desejo por justiça, ainda que essa justiça não siga caminhos convencionais ou éticos.

A direção de Yarovesky acerta em cheio ao transformar o ordinário (um carro comum) em um espaço de tensão constante. A mise-en-scène é claustrofóbica e calculada, e há uma elegância quase cruel na forma como a narrativa avança, nos obrigando a confrontar tanto os pecados de Eddie quanto nossos próprios limites como espectadores.

“Confinado” é uma experiência de tensão crescente, que mantém o espectador na expectativa pela sobrevivência do protagonista. É uma obra que combina ação com reflexão, funcionando como um estudo sobre a culpa e a necessidade de enfrentar as consequências dos próprios atos. Embora o desfecho possa dividir opiniões, especialmente entre os que esperam por algo ainda mais intenso, o filme permanece na memória por muito tempo além dos créditos finais.

Nota: ✨✨✨✨

Por Rebeca Furtunato

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